GESAMTKUNSTWERK, UM ENCONTRO COM VÊNUS

Universidade Federal de Goiás

Escola de Música e Artes Cênicas

 

Defesa da Dissertação de Mestrado

Gesamtkunstwerk, Um Encontro com Vênus

Sylmara Cintra Pereira

Dia 18 de setembro, 17 h – Auditório da Escola de Música e Artes Cênicas – UFG

Banca

Prof. Dr. Marcio Pizarro Noronha (UFG) – PRESIDENTE DA BANCA

Prof. Dra. Rosemary Fritsch Brum (UFRGS)

Prof. Dra. Maria Helena Jayme Borges (UFG)

Suplentes

Prof. Dr. Ângelo Dias (UFG)

Prof. Dr. Marcos Menezes (UFG)

Prof. Dra. Rosa Maria Berardo (UFG)

 

Texto do Orientador:

Trata-se de um trabalho de iniciação na pesquisa do campo interartístico, tendo como alvo investigativo o problema da definição de artista no século XIX, tomando como base ou bússola o compositor e multiartista Richard Wagner.

A concepção de multiartista está presente em toda a reflexão produzida neste trabalho, incluindo aí a dupla opção de lidar com os conteúdos através de um meio audiovisual.

De um lado, temos os três tempos desta história interartística do século XIX: A ÓPERA; A OBRA DE ARTE TOTAL; E, AO FINAL DO XIX, NAS REVOLUÇÕES ARTÍSTICAS, O DESENVOLVIMENTO DO MODERNISMO MUSICAL, da música de vanguarda e da música experimental do século XX.

De outro lado, seguindo um grupo de trabalhos no campo da pesquisa histórica e da arte, optamos por nos enfrentar com a temática da biografia e, através dela, refletir ainda sobre o que seja a Arte e o que seja Um Artista.

Nestes termos, o trabalho analisa uma biografia de artista no formato de um documentário ficcional (um tipo de biografia histórica ficcional) e um filme de ficção cujo tema é a biografia do Rei Ludwig e suas relações com o artista Wagner. Wagner ascende à posição reconhecida de artista através do mecenato de Ludwig da Baviera. Ele se torna o artista.

Os temas revelam as preocupações da pesquisa com os engodos da “ilusão biográfica” (Bourdieu), mas para além deste debate, estão preocupados em situar os modos de se apresentar um artista no nosso tempo.

A perspectiva histórico-antropológica permeia a constituição da subjetividade política e enuncia o problema da primeira fase da vida de Wagner como estando associada aos embates e alianças entre um individualismo subjetivista e espiritual (romantismo alemão), um holismo tradicional (Communitas) e um desejo de ultrapassar o local para chegar ao global (vocação expansionista política do tipo universalista), ultrapassando a formação do Estado moderno liberal, para um tipo de Estado autoritário.

Assim, a figura do artista parece condensar a aura da Kultur alemã e permite a compreensão de como, no modelo deste artista – Richard Wagner – se faz a passagem do indivíduo histórico-social (com enfoque no lugar político do homem) para um indivíduo artista, o músico e a ultrapassagem das fronteiras da música, na sua proposta de “revolução artística e cultural”.

Assim, a biografia filmada e Ludwig, ambos, apontam para a centralidade da posição de artista.

Daí o lugar adequado para a concepção de uma Gesamtkunstwerk, surgida no movimento do exílio – do deslocamento e da distância da “terra natal”, condição espacial e política, terrenal – para um preenchimento desta Falta provocada pelo isolamento e pela distância, numa busca que percorre o tempo, voltando-se para o passado histórico e seu mais aquém, o passado mítico.

Isto me leva a pensar que estamos diante de uma topografia que gera uma topologia, ou seja, um mapa que produz um enclave de afeto, tal como elenca Giuliana Bruno em seu Atlas of Emotion.

É do deslocamento e adoecimento espacial – o exílio – que surge uma cura simbólica no tempo, na busca do passado originário. Mas este movimento para um aquém se revela em sua faceta obscura de tentativa de paralisação do tempo histórico, observando a potência do tempo mítico, na busca de uma temporalidade distendida e divina, através da função dramática das “óperas” wagnerianas, da sua obra de arte total, re-espacializando e reordenando o tempo e seu fluxo.

De outro lado, ainda, estamos diante dos viajantes do XIX, atravessando a Europa e procurando sempre um país imaginário. O artista como viajante, como exilado, o deslocado, o silenciado, figuras que irão percorrer este imaginário da arte e do artista para além do XIX, adentrando a cultura da vanguarda do XX.

Estas são algumas questões para dar continuidade ao tema das biografias de artista e seu lugar na definição da arte e do artista.

~ por marciopizarro em setembro 18, 2008.

Deixe um comentário