PINTURAS FRANTZ
Dia 25 de setembro no CENTRO CULTURAL BASILEU TOLEDO FRANÇA / BIBLIOTECA PÚBLICA DANTE MOSCONI (Jataí) será realizada a abertura da Exposição AFONSO.FRANTZ.GHIORZI.GUMARÃES: ACERVOS COLETIVOS com obras destes quatro artistas brasileiros, uma curitibana, dois gaúchos e uma mineira. A mostra inclui obras do Acervo Particular de Marcio Pizarro Noronha e trabalhos de artistas (Acervo do Artista). Algumas destas obras já circularam o Brasil, integrando exposições em João Pessoa, Aracaju, Porto Alegre, Brasília, Goiânia e, atualmente, Jataí. Esta atividade integra o Grupo de Pesquisa Interartes (CNPq UFG / PPGH-FCHF UFG / PPGM EMAC UFG) e o Grupo dos Projetos de Extensão e Cultura Arte&Psicanálise e Educação Estética (CAJ UFG / COORDENADORIA DE HISTÓRIA), órgãos da Universidade Federal de Goiás dos quais o Professor Doutor Marcio Pizarro Noronha é membro atuante. A exposição integra as atividades do II Congresso de História de Jataí e faz parte de uma série de outras atividades voltadas para o Núcleo de História e Teoria da Arte, antecipando o projeto de formação do curso de Artes Visuais, Licenciatura (Presencial) do Campus Avançado de Jataí, do qual o professor Doutor Marcio Pizarro Noronha, preside a comissão de instalação do curso para o ano de 2010. Nesta página (ARTIGO), você irá encontrar imagens do local da exposição, obras dos artistas, textos de crítica do professor Marcio, bem como o desenvolvimento do projeto realizado pelos professores, alunos (curso de História, Psicologia, Educação Física, Pedagogia dentre outros) e membros da comunidade artística jataíense, integrantes do grupo de extensão e cultura. As atividades da Ação Educativa ficarão a cargo da co-coordenadora do projeto Prof. Ms. Suely Lima (CAJ UFG / DOUTORANDA EM HISTÓRIA FCHF UFG) e dos docentes Prof. Ms. Miguel Luiz Ambrizzi (CEPAE UFG / FESURV RIO VERDE) e Prof. Ms Manoela Afonso (FAV UFG).
A arte do projeto é de autoria de Miguel Ambrizzi.
TEXTOS:
Afonso.Frantz.Ghiorzi.Guimarães:
coletiva de acervos.
A arte contemporânea não trata de um único movimento ou de figuras emblemáticas, personalidades artísticas e seu domínio do cenário. De Picasso a Pollock, de Warhol a Bacon, de Malevich a Duchamp, de Kandinsky a Marcel Broodthaers, num ir e vir entre diferentes artistas, o que se passa no mundo artístico é uma caracterização pela via da indeterminação das regras estéticas e a eleição de diferentes e possíveis trajetos históricos-estéticos-poéticos. Em compensação, no outro lado da moeda, a complexidade do sistema das artes insiste e exige do artista um posicionamento no e diante dos circuitos. As reflexões de cunho intelectual e um interesse pela teoria também estão na cena da arte contemporânea. Há uma expansão do mundo artístico e outras histórias podem ser contadas. Assistimos a presenças chinesas, africanas e latino-americanas no cenário norte-americano e europeu. Assistimos a expansão dos circuitos e ciclos, com novas bienais e outros modos de operar a arte e sua economia mundializada. Assim, orientações, roteirizações e questionamentos plurais caracterizam o mundo reflexivo da arte da contemporaneidade.
No mundo do desenho, da pintura e da gravura, artes da tradição, há as marcas do conceptualismo, da pintura per se, e a reivindicação dos outros meios. A pintura passa ao vídeo e ao áudio e vice-versa. Reconhecem-se heranças, projeções e contaminações. Campos de cor (e luz), padronagens e ornamentação (artes decorativas revisitadas na segunda metade do século XX), grafismos em redes gráficas e caligráficas, senso histórico (historicismo), reutilizações da fotografia e do cinema para a pintura, novos sentidos dado ao aspecto da textura e da fisicalidade das obras, performance de artista, documentação, transposição para outros meios, sites, blogs, virtualização, arquivos, arquitetura, obra de arte total, scinestesias. Segue a perpectiva crescente da arte como cognição (conhecimento e compreensão), como expressão (do sensível), como ação e tudo isso, no que se trava em torno da repetição.
Diante desses enfrentamos, a tarefa curatorial se impõe como um dos modos de atuar no mundo das artes.
Nela, pode se fazer a direção de um espetáculo, a administração e o marketing, a publicização, o texto da crítica de arte, a presença reflexiva destas ações nas escolhas para o ensino.
No ano de 2008, no Campus Avançado de Jataí (CAJ-JATAÍ-UFG), meus projetos de Extensão e Cultura visam atingir estes aspectos, chegando à tarefa universitária da formação crítica para e nas artes. Estes projetos em Educação Estética e em Arte e Psicanálise são as sementes para o curso de Artes Visuais do Campus e a expansão para a vocação comunitária e da invenção de lugares do fazer artístico.
Para o desenvolvimento deste Programa, a parceria instalada desde suas origens com a Coordenadoria do Curso de História, muito auxiliou na continuidade e sustentação destes projetos. Assim, neste momento do I Congresso Nacional e II Regional do curso de História do CAJ – Jataí / I Simpósio do GT História Cultural ANPUH GO, vimos apresentar à comunidade a exposição AFONSO.FRANTZ.GHIORZI.GUIMARÃES: COLETIVA DE ACERVOS.
Agradecemos a todos(as) nossos colaboradores, Direção do Campus, equipe administrativa e operacional, professores da UFG, alunos do curso de História, alunos participantes dos projetos de extensão, parceiros-patrocinadores. Em especial agradecimento aos artistas, motivo principal das nossas reuniões de terças-feiras e cujas obras foram disponibilizadas para este trabalho, através de suas coleções e do apoio de particulares.
Local: Centro Cultural – Basileu Toledo França / Biblioteca Pública
CENTRO CULTURAL JATAI GOIAS
Avenida Goiás, s/n – Jataí – Goiás
Abertura: 25 de setembro de 2008, 20h30
Período: 25/09/2008 – 17/10/2008, segunda à sexta, 8h-17h.
Ação Educativa: Após 01/10/2008 – através de Agendamento.
TEXTO DA CURADORIA
VERTENDO
ARTES-TRADIÇÕES-CONTAMINAÇÕES-PROJEÇÕES-ROTEIROS-POLÊMICAS
Este é um texto que segue uma tradição da crítica e também tem como objeto e preocupação a criação de linhas de consistência para as complexas tarefas da equipe que produz a Ação Educativa – Mediação desta exposição, formada pelos professores-artistas, Suely Lima (CAJ UFG), Manoela Afonso (FAV UFG) e Miguel Ambrizzi (CEPAE UFG).
A idéia originária ou motivadora dos Projetos de Extensão e Cultura estava no enfrentamento e aprendizagem provocada por um processo de montagem de uma exposição, envolvendo as reflexões de cunho psicanalítico, que aproximam o fazer artístico do fazer clínico, o espaço do ateliê do espaço da clínica, as posições da arte e do analista e, um princípio de educação estética em arte, voltado para a experiência singular de cada envolvido.
Para realizar este trajeto foram eleitos artistas e alguns eixos de leitura. Um deles diz respeito à História e à Teoria da Arte e o outro diz respeito ao foco na operação-conceito de repetição, fantasma da atividade artística em geral.
I
História e Teoria:
a figura humana, ausência e presença.
O modernismo e suas escolas seguem sendo uma constante nas preocupações e reflexões entre artistas, teóricos e historiadores. No cerne destes movimentos da vanguarda histórica e para aquém e além deles, havia uma busca por novos meios e por novos campos para o fazer artístico. Artistas como Moholy-Nagy e Oskar Schlemmer apontaram para os temas das linguagens e para o revirão da perspectiva, procurando envolver o homem num espaço infinito e o modo como se representa a figura humana cercada ou imersa na paisagem. Este homem era, ao mesmo tempo, individualizado e serializado, único e massa. A figura humana em seu isolamento, singularidade e como tipo, era preocupação que já vinha se desenhando desde o Romantismo.
Do que se trata, quando se inclui ou exclui a figura do humano?
Em Frantz, a individuação sensorial é extremada na ausência da figura, para fazer nascer a nossa presença.
Frantz aponta para uma exterioridade participativa, o humano está fora das telas, mas seus gestos e seus acúmulos [de memórias] estão ali. Mas também se apresenta como puro olhar prestes a devorar estes quadros de massas e cores. Por outro lado, destas interações – no espaço do ateliê – surge um asfixiante espaço totalmente pictórico, como se estivéssemos sendo involucrados, pouco a pouco, nele, encapsulados, enclausurados, um casulo de tinta e pintura. Assim, as pinturas destinadas ao olhar são um pequeno trecho desta idéia maior de um espaço acumulado e encoberto por pintura. Nesta integração o equipamento do olho é apenas um elemento de um sensorium integralmente posicionado para a alucinação de um mundo-pintura.
Em Ghiorzi, há sempre uma falsa figura e a lei da repetição.
Ghiorzi apresenta um homem como figura, tipo, repetido, serial, mas promovendo uma figuração que burla o sistema figurativo para criar anti-figuras, figuras em derrisão, em derrocada, em queda, todas elas derretendo em algum ponto, dissolvendo-se. Mas aqui não há o senso trágico de Bacon. A derrocada não é um estágio da decrepitude física, da decadência do humano em sua carne. Trata-se de um apagamento frio, distanciado, do tipo histórico. Se há tragédia, talvez seja a da lisura dos signos históricos, esvaziados das preocupações vindas de épocas distintas para serem operados como parte de uma única história tecnológica da pintura, alvo do interesse do artista.
Em Guimarães, há uma tomada do individual em queda no Mesmo.
Guimarães toma o lema romântico no seu avesso e assume a dimensão contemporânea do humano ele próprio paisagem. Suas peles coloridas são naturezas-mortas tropicais, operando no sentido de transformar o pessoal em impessoal. O colorido vibrante das fotografias não esconde uma frieza de uma carne sem carne. Mesmo quando usa o mesmo repertório das cores baconianas e a presença da tecnologia da fotografia, sua figura resulta numa extática. O realismo gritante da fotografia íntima é reconvocado para um tipo de formalismo, o que aproxima estes corpos físicos, em sua maioria visíveis, sexuados sem o sexo, um modo de brincar com os jogos da proximidade e da distância. Suas fotografias parecem dizer, quando mais perto, mais longe – evocando aqui o avesso de “tão longe, tão perto” dos anjos de Wim Wenders. O que Guimarães figura é a marca do engano presente em toda a intimidade e a distância entre olhar [feminino] e corpo [masculino], transformando todo o olhar e corpo num Neutro (Barthes), numa geométrica e depurada cadência.
Em Afonso, o humano aparece como repetição dançante na geometria entre-rígida do espaço.
Afonso traz o humano como parte integrante de uma geometria, os candangos são como os bailarinos bauhausianos de Schlemmer. Mas mesmo geométricos e repetidos eles estão abertos ao espaço, configurando uma dança, ou seja, uma dialética entre o isolamento e a integração, pela via da repetição, serial. As séries lembram também os ballets mecânicos e o cinema inaugural das vanguardas do século XX. A repetição é ordenação liberadora.
Este modernismo é revitalizado por um princípio de arte total, por um posicionamento no mundo – posição em trânsito [da viagem] e de leitura do mundo. Nele, os textos não são meros comentários ou metáforas, mas são convites a novas tomadas de posição, humana, viajante. Assim, ironias e paródias servem como princípios ativos da linguagem – quando o dizer revela-se um fazer.
II
História e Teoria,
O tema e a ausência dele, a investigação da Beleza é ainda possível?
Nesta mostra, mesmo com aparências e resultados distintos, os dois pintores integram o movimento do fim do tema para a ascensão da arte, a precariedade dos gêneros diante dos problemas da linguagem e a preocupação daí decorrente com a Beleza.
Se o tema inexiste, há algo que passa por ele ou que poderia constituir um: o Real.
O retorno do Real
Quando o olhar não assenta raízes costumamos encontrar frias elaborações e comparatismos de ordem formal. Aí, costuma-se olhar para Frantz e pensar no expressionismo abstrato norte-americano – Pollock – ou no neo-expressionismo alemão e suas fortes impressões causadas na geração 80 brasileira. Mas os anos passam e as distâncias servirão como balizadores para uma inflexão mais crítica.
Há uma explícita e sempre presente preocupação do artista em dar supremacia aos meios da arte – um olhar atento para a cor, para a forma, para as massas, meios e materialidade – sobre a representação do visível, para que se possa dar visibilidade ao mundo, fazer passar ao mundo numa encarnação, num INCARNAT.
Esta história poderia ter outras raízes, no conceito dos Anos 50, do século XX, da pintura absoluta (Willi Baumeister), apresentando-se sob a forma de grandes murais ou de projetos pictóricos para arquiteturas inexistentes. Nestes espaços, que tomam o ateliê como ponto inicial para uma investigação do caos, são geradas ordens formais, onde estamos a falar de texturas vindas de um sem-fundo do ateliê – lugar da produção – e de um sem-fundo do mundo para serem recortadas em signos visuais resultantes de um olhar atento.
Frantz poderia ser um suprematista contra-Malevich?
Como o pintor moderno, em tudo há pintura [o mundo é pintura], pois a pintura está na forma e no informe do mundo, fazendo gritar superfícies de cor e massa, luz e ausência dela. Mas, inversamente a ele, procura o Vazio no potencial expressivo dos espaços cheios e saturados.
Assim se desdobram histórias da abstração acumuladas e saturadas. Tudo é ironia e aclamação. A cada trecho das telas recortadas do mundo-ateliê, observamos Tadeusz Kantor, Karel Appel, COBRA, Fautrier, expressionismo abstrato, action painting, dripping, informalismo, tachismo, Cy Twombly, graffiti. Sua abstração não é uma posição metafísica, mas um acúmulo da informação histórica e não ingênua desta pintura, uma abstração por via da collage destas tantas visualidades, numa operação não pictórica que vai ao encontro do pictórico e sua historicidade [o pintor que não pinta], num corte do mundo quando o artista encontra, em seus muros, mesas, paredes, ruas os signos e as marcas que estão dispersas no mundo. Assim, como teria dito Robert Motherwell, ele [Frantz] desenha com o olhar, pois recorta do mundo, algo da pintura-mundo.
A eliminação do Real
À primeira vista, quando nos deparamos com a pintura de Ghiorzi também temos a simples e usual expressão de se tratar de uma pintura herdeira do clássico-barroco, da pintura histórica e das suas formas paródicas do pós-modernismo. A perspectiva deste engodo se deve prioritariamente pela força das imagens escolhidas pelo artista, integrando nosso imaginário da pintura ocidental.
Ghiorzi é um outro tipo de pintor modernista – Bauhaus, Mondrian, De Stijl – e nisto dialoga e conflita com a pintura de Frantz. Passou da pintura ao design e do design voltou à pintura, sempre dialogando com formas comunicativas, projetos arquitetônicos, mobiliários, numa objetividade. Mas também faz uso disso como aluno que foi da pop art – cultura de massas, imagem como lógica da repetição, séries de Elvis que são substituídas por séries de rostos, golas, fundos negros…
Neste jogo entre moderno e pop, uma pesquisa para encontrar um modus de pintar, um estilo que seja a construção de um método – o dripping (GOTEJAMENTO) pollockiano e as escovadelas e panos baconianos, que Ghiorzi inventa para si – criando um padrão para a ação e um conjunto permanente de relações formais predominantes sobre qualquer tema que seja adotado.
Portanto, trata-se de uma pintura gestual-performance e da sua analítica, uma action painting redimensionada, na qual o processo de pintar é o conteúdo do quadro, formando com isto uma extensa rede de pintura, uma intervisualidade que é aparentemente imagética, mas que, ao nos aproximarmos do detalhado método do artista, não trata de unidades de imagem, mas de unidades de operação e tecnologias.
É assim que podemos e devemos voltar à Holanda de Ghiorzi, o país imaginário da pintura, mas também do calvinismo e da iconoclastia, da burguesia e dos valores da arte como empresa – Rembrandt -, de uma tradição investigativa e construtivista da pintura para a arquitetura, da pintura científica, da pintura disciplinada. Mondrian, pintor asceta e apaixonado pelo jazz [a música como pintura], é o herdeiro moderno desta tradição. E não é gratuito o interesse em Mondrian [em queda], como o faz Ghiorzi num filme-pintura sobre este artista. Pois é desta paixão técnica e da história das grandes transformações técnicas na história da pintura que se faz o núcleo desta pintura que varia e inventa sempre novos modos de proceder.
Assim, nestas superfícies não se acumulam histórias, mas revelam-se trajetos da tecnologia da pintura. Tal como em Rembrandt, Mondrian, Morris Louis ou Ad Reinhardt [abstração pós-pictórica e as Pinturas Negras]. Por isso, as figuras são engodos – trompe l’oeil legítimo da e na arte. Elas são desculpas para continuar maquinando investigações, aos moldes de um bricoleur. É uma pintura per se, nas obras e na expressão de um Malcolm Morley, ou de um Howard Kanovitz, tudo dizendo respeito ao modo pop de presentificar a anatomia das ilusões [a ilusão da ilusão do barroco].
Ele pode fluir com o óleo, traçar planos acrílicos ou ejetar o automotivo. Ele evoca as pinturas negras não para historicizar suas telas, mas para apresentar como sempre atual a tradição da profundidade dos campos na pintura – Rembrandt, Hals, Velázquez, Goya, Manet, Reinhardt. Ele cria diferentes fluxos pictóricos e as variações do negro, do frio ao quente.
O retorno do tema.
Nos trabalhos de nossas artistas mulheres, o tema volta à tona e à cena.
O tema em Guimarães é o Corpo.
O Corpo é um objeto persecutório, mas que também é mantido a uma distância no olhar da artista. Desse modo, ela nos convida a transformar o próximo em distante. A carne é sempre o próximo. A carne pode ser subjetiva ou objetiva.
Guimarães revela um trajeto subjetivo des-emocionalizado [feminino no masculino para chegar ao neutro] e nisto conquista uma zona intermediária, um intervalo no objetivo e no objeto. Isto resulta num corpo fatalmente plástico, produzido de um olhar para o dentro vindo de um fora.
Eis um corpo-pop. Eis um corpo-paisagem. Uma pop-paisagem de corpos. Como produtos fulgurantes na prateleira, eles nos convidam ao consumo, mas sempre se mantém distantes. Como objetos, eles possuem sua auréola, seu magnetismo. Eles estão no ponto limite de fixação – extáticos – e aparecem ainda gloriosos e jovens, lustrosos.
Estes corpos já renunciaram, enquanto imagens, ao toque pessoal. Eles se querem objetos em sua inflexão imaginária, unindo o tema ao estilo. Nada de metáfora. Nada de experiência. Somente belas, luminosas, coloridas cadeias de corpos de um mesmo corpo. Assim, vai-se do outro ao mesmo e ao Mesmo, reprodução técnica enquanto conceito de uma repetição do Mesmo no Outro.
Trafega nesta zona Cindy Sherman. Para a artista norte-americana, esta paisagem permite um acesso [parcial e encenado] à experiência.
Em Guimarães, a paisagem esvazia a significação, convocando a uma saída ou a um neutro da experiência, num afastamento que faz do outro um puro objeto de cor – na tradição moderna dos campos saturados de cor [vibração e contaminação das cores].
Ao mesmo tempo, a artista revela seu interesse por outros trajetos da arte, fora do campo concedido das imagens, são as ações corporais. Elas revelam aquilo que a imagem não pode traduzir. Elas convocam ao prazer do corpo, reinventado pelos oficiantes na performance. Elas reverenciam interlocuções felizes, arte relacional.
Mas há sempre a sombra do contato-contágio entre imagem e relação, entre objeto e sujeito e isto já é outra história, para outras obras.
O tema em Afonso é o constructo.
O mundo é a preocupação de Afonso, seu lugar viajante e sua posição no espaço, sua arte é scinestésica, não por exercício dos sentidos no espectador, mas na produção de um senso-guia para a artista.
Ela lida com distâncias e com o mundo. O seu mundo é sempre construído, uma paisagem feita de blocos, séries, repetições, inclusive as humanas. Por isso seu interesse pela arquitetura e a maneira de converter a tridimensionalidade em figura bidimensional e esta, por sua vez, numa padronagem de superfície que servirá aos objetivos do repertório.
Um repertório na lei da repetição tem como em Ghiorzi o poder dos mantras [e como se trata de visual-plástico, das mandalas]. Eles servem à artista para formalizar [e compreender matematicamente o entorno], para politizar [e garatujar o entorno] e para meditar [sobre o poder mito-crítico da arte].
Destas topografias de Afonso estão a se gerar as Topologias. Todo o mundo virando um tecido, sensível. Assim, o construído é corporificado, o concreto passa à carne, as séries do universo apreendidas na concretude do mundo e das particularidades de um trajeto artístico.
Inversamente a Guimarães, Afonso que dar carne ao descarnado para, como Frantz, operar o INCARNAT. Assim, ela se faz objeto de uma experiência – o que a posiciona no lugar de eleição provocado por Frantz para o espectador-interator.
Nossos artistas.
Todos eles, em trajetos distintos, em métrica e em rima e dor, nos levam a pensar no poder da obsessão e da repetição na arte. O método da individuação alucinatória progressiva ou das seriações figurais ou temáticas fazem parte de um princípio construtivo e de uma complexa matemática do espaço compositivo eleito por cada artista.
Suas heranças e produções são nossos problemas, enquanto críticos, teóricos e historiadores. Entre um estruturalismo da imagem, a performance e o pop trafegam fotografias, gravuras, pinturas e vídeos. Cabe sempre o desafio a recomeçar o percurso e tracejar um novo texto. Nada aqui pretendeu desvelar. Tudo apenas é intento de caminhar ao lado, roçar, provocar, convocar. Vamos às obras.
Marcio Pizarro Noronha
Psicanalista, professor de História e Teoria da Arte (e Interartes)
Seguem imagens, blogs, textos, etc. de trabalhos dos artistas da Exposição
MANOELA AFONSO
AFONSO, Manoela.
http://www.manoelaafonso.zip.net
http://manoelaafonso.wordpress.com
http://breviario.org/cumulusnimbus
http://caradepaubrasil.wordpress.com/
http://www.lemurbr.blogspot.com
http://www.iar.unicamp.br/galeria/loading/index.htm
http://www.guzzardi.it/arte/archiviomailart/artistimailart/afonso.html
texto em pdf: texto-maoela
FRANTZ
FRANTZ
http://www.koralle.com.br/arte/frantz/curriculo.asp
PINTURA FRANTZ
PINTURA FRANTZ
JULIO GHIORZI
http://www.festivaldearte.fafcs.ufu.br/2004/exposicao-jg.htm
http://www.aplauso.com.br/site/portal/detalhe_notas.asp?campo=618&secao_id=17
http://wwwgrupokabra.blogspot.com/2007/03/esta-matria-saiu-na-revista-do-museu-do.html
http://www.acervos.art.br/noticias/detalhe_noticiarte.php?id=1449&cat=2&pageNum_submenu_rs=0&totalRows_submenu_rs=82
http://www.canalcontemporaneo.art.br/e-nformes.php?codigo=630
JULIO GHIORZI (Porto Alegre, 1962) A obra de Julio Ghiorzi é resultado de uma constante pesquisa dos meios da pintura, que vão além de questões matéricas e técnicas. A construção de uma figuração com linguagem contemporânea é o foco de atenção do artista ao usar como modelo temas extraídos da história da pintura ocidental. Iniciou sua formação no Atelier Livre de Porto Alegre, concluiu o Bacharelado em Artes Plásticas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em 1991, onde foi professor nos anos de 2001 e 2002. É Mestre em Cultura Visual pela UFG-FAV com a dissertação PINTURAS GÊMEAS. Pintura, Impressão, Pintura. PRINCIPAIS EXPOSIÇÕES 1999 Ball State University Galery – Muncie – Indiana – EUA 2000 Chiostro di San Luigi – Asolo – ITÁLIA 2000 Bolsa de Arte de Porto Alegre 2002 Casa de Cultura Mário Quintana – Porto Alegre 2004 Museu de Arte do Rio Grande do Sul – MARGS – Porto Alegre 2004 CARLTON ARTS – Encontro com Arte – Porto Alegre 2004 Centro Cultural dos Correios – Rio de Janeiro 2005 IV BIENAL INTERNACIONAL DE ARQUITETURA Fundação Bienal São Paulo 2005 PANORAMA DA ARTE BRASILEIRA 2005 Museu de Arte Moderna de São Paulo (PESQUISA REALIZADA PELA DISCENTE JOELMA CABRAL – MEMBRO DO GRUPO DE EXTENSÃO E CULTURA ARTE & PSICANÁLISE E DO GRUPO EDUCAÇÃO ESTÉTICA)
FIGURA BARROCA GHIORZI
FIGURAS BARROCAS GHIORZI
SERIES FIGURAS HISTÓRICAS GHIORZI
PINTURAS GEMEAS GHIORZI
PINTURAS GEMEAS GHIORZI
PINTURAS GEMEAS GHIORZI
CINTIA GUIMARÃES
CORPOS GUIMARÃES
CORPOS GUIMARÃES Col. Marcio Pizarro Noronha
CORPOS GUIMARÃES
CORPOS GUIMARÃES
CORPOS GUIMARÃES
CORPOS GUIMARÃES
TEXTOS CO-PRODUZIDOS NO PROGRAMA DO PROJETO CURATORIAL.
ASSINATURA PROF. DR. MARCIO PIZARRO NORONHA
INTEGRANTES
GRADUANDA DIOVANA FERREIRA (HISTÓRIA CAJ UFG)
A História da Arte e as relações intervisuais.
Diovana Ferreira (graduanda do curso de História, CAJ JATAÍ)
Prof. Dr. Marcio Pizarro Noronha
A Arte apresenta formas, técnicas, expressões, sentimentos e denúncias de seu tempo. Essa mostra traz quatro artistas com diferentes estilos de pintar, gravar, fotografar, enfim, registrar suas relações com a Arte enquanto Poética e Processo e com a Arte enquanto a História da Arte e as heranças e tradições culturais. Ao longo da história os artistas consagraram-se por descobrir novas técnicas, por encontrar um estilo próprio, por desafiar o clássico, ousar, sentir, criar e sensibilizar ao término da obra ao mesmo tempo em que, como afirma Manoela Afonso, teciam relações com a própria obra. Não se trata de apreciar a obra pronta e acabada, mas todo o processo, desde a produção até a experiência de como o observador faz parte da obra.
Nesse sentido Frantz traz algo surpreendente, sua maior característica está em decidir como o acaso formou uma pintura. A partir daí nos remete ao conceito de pintura, quem decide o que é pintura, como e quando ela se torna obra! O tecido ou o papel que protege o chão ou a parede dos respingos, marcas e restos de tinta do ateliê formam as telas de Frantz – o pintor que não pinta! Mas que gesticula na confecção da obra. Com camadas e camadas de cores, formas, e misturas que nos remetem ao acaso, à forma e ao informe das obras de Jackson Pollock, em meados do século XX, consagrado no expressionismo abstrato. (artista cuja obra e contexto está sendo alvo do estudo do grupo da disciplina de Núcleo Livre. Tópicos em História da Arte, ministrada pelo prof. Dr. Marcio Pizarro Noronha)
As relações intervisuais das obras, tanto destes artistas entre si, como com qualquer outro ou ainda com o receptor, vem trazer questionamentos em relação aos conceitos ao longo da história da arte. O diálogo intervisual passa a ser o canal mais profundo de conexão entre obra/artista/obra/observador e não se limita às séries ou conjuntos de imagens, tal como nas abordagens da tradição formalista e iconográfica. Nossos artistas apontam para operações intervisuais, ou como afirmo em texto recente do Colóquio de Estética, para uma operação de cunho estrutural.
“Desse modo a circunscrição de conceitos-enquadres, aos moldes de caminhos traçados por Yve-Alain Bois (2007), indicam que um formalismo estrutural (e não morfológico) não é superável e representa um passo na direção das questões especiais ao campo estético e àquilo que fará a História da Arte. E que, portanto, não devemos confundir a morfologia simples e as analogias visuais com o que seja um efetivo estudo histórico-teórico das artes. Para este historiador-teórico, analogias dizem respeito não a significados comuns, mas a estratégias (e possibilidades, condições que se assemelham). Assim, o problema que já não era morfológico será tampouco semântico. Ele será um problema de ordem de objetivos, condições e estratégias de realização das obras. As semelhanças formais não revelam relações contextuais e tampouco de caráter semântico. O que diz respeito ao contexto e à ordem semântica estaria muito mais próximo de uma história dos conceitos. Portanto, desvelar significados diz respeito a pensar o modo como certos conceitos foram aparecendo e se modificando. Portanto, o anúncio de analogias deve ocorrer no chamado nível estrutural, aquele que irá garantir as operações e nelas reunir um conjunto de obras que serão realizadas de acordo com estas estratégias.” (NORONHA, 2008)
Assim, o que se aponta nesta reflexão é para um tipo de comparatismo estrutural, onde o que se revela são os objetivos, as condições e as estratégias de realização, ou seja, as operações e conceitos presentes nos processos de produção. Isto revela um novo relacionamento entre o texto crítico e o trabalho do artista. Agora, convocado a uma compreensão mais tecnológica o crítico abandona seus “impressionismos”, seus “efeitos de retórica”, suas “poesias simbolistas” e, tal como a passagem do antropólogo de gabinete do século XX, é exigido num enfrentamento corpo a corpo, numa relação mais direta com obras e artistas.
18 DE SETEMBRO – TRANSPORTE DE OBRAS GOIÂNIA JATAÍ
20 DE SETEMBRO – TRANSPORTE DE OBRAS UBERLÂNDIA JATAÍ
23 E 24 DE SETEMBRO – MONTAGEM DA EXPOSIÇÃO
25 DE SETEMBRO
MANHÃ
Divulgação. Pintura mural. Intervenção urbana.
Montagem. Organização do espaço para a reunião do min-simpósio e da palestra. Operacional da exposição (coquetel, etc.)
TARDE
14h-18h
atividades do congresso de história – mini simposio – historia das artes
PROF. DRA. ROSEMARY FRITSCH BRUM (UFRGS / LHO)
rosebrum@hotmail.com e rosebrum90@gmail.com
18h – 19h – intervalo para preparativos da abertura da exposiçao
19h – 20h30 Mesa-redonda História das Artes: Sistemas visuais, século XIX – Brasil. Palestrantes: Prof. Dra. Maria Elizia Borges (UFG FAV), Prof. Dra. Clarisse Ismério (URCAMP), Prof. Ms. Miguel Luiz Ambrizzi (UFG CEPAE / FESURV). Coordenação: Prof. Dr. Marcio Pizarro Noronha (UFG CAJ / PPGH /PPGM)
20h30 – ABERTURA DA EXPOSIÇÃO. COQUETEL. APRESENTAÇÃO DE PERFORMANCES. DANÇA. INSTRUMENTISTAS. Participação do bailarino-performer Sacha Witkowski.
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DIA 26
PROGRAMAÇÃO
MANHÃ
8H30 – 11H30 – ATIVIDADES DA AÇÃO EDUCATIVA. OFICINA DE AÇÃO EDUCATIVA. PROF. MS MANOELA AFONSO, PROF. MS MIGUEL AMBRIZZI, PROF. MS. SUELY LIMA, PROF. DR. MARCIO PIZARRO NORONHA. ABERTA Somente para os alunos que estão trabalhando no projeto da exposição.
TARDE
14H – 18H
MINI SIMPOSIO HISTORIA DAS ARTES
HISTÓRIA E TEORIA INTERARTES: NARRATIVAS, TOPOLOGIAS E VISUALIDADES E A PESQUISA RECENTE EM HISTÓRIA E TEORIA DA ARTE.
COORDENAÇÃO:
PROF. DR. MARCIO PIZARRO NORONHA (UFG / CAJ)
marcio.pizarro@hotmail.com e marcpiza@terra.com.br;
RESUMO: A reflexão historiográfica em torno da disciplina da História da Arte envolve os estudos da cultura visual, audiovisual, da teoria interartes e dos estudos inter e transmidiais. Nesta perspectiva tem sido acentuada a interlocução entre arte-cultura no campo da pesquisa histórica. Ampliam-se os procedimentos e as estratégias estéticas, dissolvem-se especificidades das linguagens tradicionais no amplo campo da estética pop-internacional e permite-se a geração de novas formas de arte, tais como a recente ascensão dos grafites, h.q. e, mais recente, do videogame. Fundamentando-se na experiência dos procedimentos de leitura das singularidades e da subjetivação (nas matrizes do trajeto de uma história cultural da psicanálise e seus desdobramentos), procuramos abordar esta constituição tal como se fora um trajeto e uma topologia, o que é denominado pela historiadora GIULIANA BRUNO, “Atlas da Emoção”. O simpósio tem suas origens no grupo de pesquisa diretório CNPq INTERARTES: SISTEMAS E PROCESSOS INTERARTÍSTICOS E ESTUDOS DE PERFORMANCE, tendo desenvolvido trabalhos no encontro internacional de historia (Goiânia 2007), Abralic (2007 e 2008).
PROF. DRA. ROSEMARY FRITSCH BRUM (UFRGS / LHO)
rosebrum@hotmail.com e rosebrum90@gmail.com
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DIA 27
SÁBADO
8H30 – 11H30
ENCONTRO ALUNOS DE HISTÓRIA (turma de História Moderna II e grupo do Núcleo Livre de História da Arte). COORDENAÇÃO PROF. DR. MARCIO PIZARRO NORONHA
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DIA 30
TARDE
13H30 – 16H30 – RESERVAR HORARIO PARA REUNIÃO DO GRUPO DA AÇÃO EDUCATIVA. ÚLTIMOS PREPARATIVOS E ORGANIZAÇÃO DA FORMA DE DIVULGAÇÃO PARA AS ESCOLAS BEM COMO DO SISTEMA DE AGENDAMENTO VISITAS.
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DIA 01 DE OUTUBRO – DIA 17 DE OUTUBRO
PERÍODO DA EXPOSIÇÃO COM AÇÃO EDUCATIVA PARA ESCOLAS (ATRAVES DE AGENDAMENTO)
HORÁRIO DE FUNCIONAMENTO NORMAL DA BIBLIOTECA.
TEREMOS ALUNOS MONITORES EM TEMPO INTEGRAL PARA ACOMPANHAR A VISITAÇÃO DURANTE ESTE PERÍODO
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18 E 19 DE OUTUBRO (ATÉ NO MAXIMO DIA 21 DE OUTUBRO)
PERÍODO PARA A DESMONTAGEM DA EXPOSIÇÃO.
Publicado em CURADORIAS E PROJETOS EXPOSITIVOS